terça-feira, 29 de maio de 2012

Situação Grécia


A menos de 20 dias das eleições parlamentares que devem definir a permanência ou não da Grécia na zona do euro, o movimento Nova Democracia (ND, centro-direita), favorável ao respeito dos acordos de austeridade firmados com Bruxelas, reassumiu a liderança nas intenções de voto. Seis novas pesquisas divulgadas em Atenas apontam que Antonis Samaras, líder do partido, teria entre 23,3% e 25,8% dos votos, em primeiro lugar. As projeções indicam que os partidos 'pró-austeridade' poderiam chegar a uma maioria, encerrando o impasse político. Ainda assim, por toda a Europa governos e empresas privadas se preparam para o desligamento da Grécia, que poderia custar entre € 200 bilhões a € 1 trilhão.
Nesta segunda-feira, 28, os mercados financeiros passaram boa parte do dia no azul, satisfeitos com o avanço de Samaras frente ao líder da Coalizão de Esquerda Radical (Syriza), Alexis Tsipras. Em algumas pesquisas, Tsipras caiu a 20% das intenções de voto, depois de liderar. Pesquisa dos institutos Pulse e Marc indicam ainda que, em coalizão com o Partido Socialista (Pasok), também favorável aos acordos firmados, Samaras poderia alcançar a maioria no parlamento, formando uma maioria com 161 a 166 deputados, em uma assembleia com 300 assentos.
Uma maioria à Nova Democracia afastaria, por ora, o risco de saída da Grécia da zona do euro. Esse cenário é o pesadelo dos investidores na Europa, que tentam estimar o custo de uma eventual implosão da moeda única. Nesta segunda-feira, o Instituto de Internacional de Finanças (IIF), que representa o sistema financeiro, estimou que o preço a ser pago pela crise chegaria a € 1 trilhão, o que tornaria o Banco Central Europeu (BCE) 'insolvente', segundo o diretor da instituição, Charles Dallara.
Nos últimos dias, uma profusão de estudos sobre as consequências do desligamento da Grécia vêm sendo publicados na Europa. Os mais modestos indicam perdas de € 200 bilhões a € 300 bilhões, mas se baseiam apenas nas estimativas contábeis de 'exposição financeira' - ou o volume de títulos da dívida soberana da Grécia que perderiam valor depois da falência do país. No entanto, segundo experts ouvidos pelo Estado, as consequências são, na verdade, imprevisíveis. Pier Carlo Padoan, economista-chefe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) se recusou a falar em números na terça-feira. Questionado pela reportagem, ele se limitou a repetir uma frase que virou seu bordão: 'As consequências de uma saída da Grécia são subestimadas pela maioria dos analistas'.
Para ele, o primeiro choque do retorno de Atenas à dracma, a moeda anterior ao euro, será a necessidade de intervenção do BCE para estabilizar bancos afetados e sob risco real de falência. Segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a organização que reúne em Basileia os presidentes de bancos centrais, só as instituições da França e da Alemanha perderiam € 57,8 bilhões com a falência. Destes, € 44,4 bilhões seriam de instituições francesas, em especial o Crédit Agricole, que veria € 5,2 bilhões saírem pela janela. Já o BNP Paribas encararia perdas de € 2,9 bilhões em títulos do país. 'Por mais que tentemos, são análises muito insuficientes', confirma Sylvain Broyer, diretor de estudos econômicos do banco Natixis. 'Qual será a parte do irracional nas perdas? Não podemos estimar a amplitude do efeito dominó, nem a percepção dos mercados. Na verdade, não sabemos o que pode acontecer.'
O que se sabe é que os efeitos da depressão grega se espalhariam pelo conjunto da economia europeia e mundial. Imagina-se que, de um dia para o outro, o dracma seria desvalorizado em 50%, esfacelando o poder aquisitivo das famílias. Com isso, as importações realizadas pela Grécia, que em 2010 chegaram a € 45 bilhões, sofreriam um baque sem precedentes, prejudicando seus maiores fornecedores, todos europeus: Alemanha, Itália, Holanda, França, Bélgica, Espanha e Reino Unido, pela ordem. Grandes empresas, como as francesas Danone, Carrefour ou Société Générale, líderes em seus segmentos, também seriam afetadas em suas vendas. Setores como a indústria farmacêutica e de cosméticos ou a automobilística calculam as perdas em centenas de milhões.
Diante do rombo possível, a solução é fazer pressão pela continuidade da Grécia. Esse é o cenário com o qual trabalha o banco BNP Paribas. Segundo o economista Clemente De Lucia, analista da Direção de Estudos Econômicos da instituição, o panorama prioritário da empresa é o da manutenção da Grécia na zona do euro. 'O custo de uma eventual saída é extremamente difícil de prever, porque pode gerar o desmoronamento de todo o sistema financeiro grego, com repercussões na Europa e no mundo', diz ele. 'O melhor para todos é a permanência do país na zona do euro e a continuidade das reformas.'
Para Shanin Vallée, pesquisador do Instituto Bruegel, de Bruxelas, as previsões feitas até aqui não levam em conta a dinâmica dos fluxos de capitais em caso de 'Grexit'. Por tudo isso, Vallée não crê que a Grécia deixará a zona do euro. 'Para controlar a crise que viria, os líderes europeus teriam de adotar todas as medidas de integração e governança econômica que se negaram a aceitar até aqui. É um paradoxo', diz o pesquisador. Para ele, o debate sobre a expulsão de Atenas não passa de cortina de fumaça. 'Ministros e líderes estão tentando pressionar a Grécia a escolher um governo pró-austeridade', entende. 'Para tanto, falam em planos de contingência como se tivessem o controle da situação - o que eles não têm.'

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