Um chapéu de couro e um chicote seriam acessórios impraticáveis em seu ramo de trabalho, mas Ranulph Fiennes ainda assim parece um trabalho de ficção. No entanto, o explorador britânico não só existe como ainda tem coragem que poderia faltar até mesmo para Indiana Jones. Aos 68 anos, Sir Ranulph, título que carrega desde sua condecoração real de 1993, prepara-se para uma perigosíssima e inédita incursão antártica: a partir de janeiro, tentará ser o primeiro homem a cruzar o continente gelado durante o inverno polar. A pé e em meio a períodos de escuridão absoluta e numa época do ano em que as temperaturas no extremo sul da terra atingem 90 graus negativos.
No papel, uma aventura de quase um ano e mais de 3.000km, e cujos riscos vão do fracasso à morte do veterano explorador, que já não é mais um garoto. Mas desafiar ambientes inóspitos é uma especialidade na vida de Fiennes. Reconhecido pelo Livro Guinness dos Recordes como o maior explorador vivo, o britânico é o único ser humano a já ter cruzado os dois polos e escalado o Monte Everest, a mais alta montanha do planeta (esta última façanha em 2009, aos 65 anos). Sir Ranulph é ainda um patrono de causas filantrópicas, tendo arrecadado quase US$ 20 milhões para entidades de caridade. A aventura polar, por exemplo, terá como beneficiária a Seeing is Believing, ONG que trata de casos de cegueira evitável em países pobres.
De quebra, Fiennes em 2003 desafiou a lógica física e médica ao correr sete maratonas em sete dias, em cantos do mundo tão diferentes quanto o Cairo e a Patagônia. Tudo isso apenas quatro meses depois de sofrer um ataque cardíaco e colocar duas pontes de safena. Naturalmente, terminou a empreitada fisicamente e psicologicamente exausto, mas justificou a participação com o simples argumento de que os três dias que passou em coma após o infarto serviram-lhe para criar um senso de urgência. ''A primeira coisa que fiz quando acordei do coma foi conversar com um padre para reclamar de não ter visto luzes brilhantes ou anjos. Continuo cristão, mas agora estou certo de que não há vida após a morte. A vida é curta e não se deve perder tempo com preocupações'', afirma Fiennes.
Ex-agente de elite do Exército britânico, Fiennes também tem no currículo expedições por desertos e rios. Mas foi sobre o gelo que fez seu nome e que agora pretende encarar o desafio máximo. Além de potencialmente mortal para o homem, os rigores do inverno antártico também são um pesadelo logístico para equipamentos e aparelhos. Sir Ranulph e seus companheiros de exibição sequer sabem se gadgets como um detector de falhas no gelo funcionarão da maneira desejada. Porém, depois de ouvir rumores de que exploradores noruegueses, liderados pelo legendário Borge Ousland, estariam se preparando para um assalto de inverno, o britânico resolveu agir.
Foi a rivalidade com Ousland que também levou Sir Ranulph a enfrentar o Everest, apesar de o explorador sofrer de vertigem. Incrivelmente, não foi o primeiro medo que ele precisou superar. Nos tempos em que serviu num regimento especial em Omã, no Oriente Médio, o britânico teve que engolir em seco uma aracnofobia. Inclusive na noite em que uma delas subiu na perna de sua calça, num acampamento no deserto. ''Não podia demonstrar medo ou perderia o respeito de meus comandados'', explica.
Diante de feitos bem mais corajosos, essa pequena fobia seria perdoada...
Fonte: http://br.omg.yahoo.com
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