Você sabe o que é um Projetista de games, ou game designer?
O Yahoo! Educação ouviu um dos maiores especialistas em Projetos de Games no Brasil, João Marcelo Beraldo, que explica para nós que profissão é essa:
Já trabalho há mais de 10 anos fazendo isso, mas aposto que nem minha família tem certeza do que é que eu faço. “Tem alguma coisa a ver como joguinho” é a resposta mais provável vindo dela. Dica: chamar jogo de “joguinho” para um game designer é o mesmo que dizer que um escritor fez um “livrinho”, um cineasta fez um “filminho”, um engenheiro civil fez uma “casinha”, etc.
Há cerca de 2 anos comecei a prestar serviço freelancer como game designer e vez ou outra tenho clientes que não são da área. São agências de publicidade e equipes de produção de conteúdo educacional (seja para escolas ou para empresas) que começaram a entrar na área dos advergames e jogos educativos. A confusão sobre o papel de game designer persiste também entre eles.
O game designer é a pessoa responsável por bolar o jogo e garantir que ele seja divertido. Ele não é o artista nem o programador, apesar de ser comum o game designer vir dessas áreas. Eu mesmo trabalhei como ilustrador e designer gráfico por anos antes de virar game designer ‘de verdade’ e, nessa época, acabei aprendendo alguma coisa ou outra sobre programação.
E aí está o truque: é obrigação do game designer saber um pouco de tudo.
Em discussões com colegas da área já surgiu muito a discussão sobre o que define um bom game designer. Já entrevistei vários, já contratei alguns. Invariavelmente o sujeito precisa mostrar paixão pelo que faz e, acima de tudo, empatia. O game designer não faz o jogo para ele, faz para os outros. É essencial entender um pouco sobre o porque das pessoas gostam de certos jogos. Eu não tenho o menor saco para World of Warcraft, mas se 8 milhões de pessoas pagavam $15 por mês para jogá-lo era minha obrigação como game designer entender o porquê.
A empatia é importante também para o próprio desenvolvimento do projeto. Você precisa saber falar a língua do artista e do programador e, dependendo do tamanho do projeto, da diretoria da empresa e da equipe de marketing. Você precisa saber explicar o que precisa ser feito e vender seu peixe para públicos diferentes.
“Mas, oh Beraldo, então o game designer é um vendedor?”
De certa forma, sim. Mas é um vendedor que cria seu próprio produto. É um vendedor que defende com unhas e dentes não o produto, mas a experiência que pretende proporcionar ao consumidor final.
“E você fica jogando o dia todo?”
Não. Adoraria, mas ultimamente tenho tido cada vez menos tempo para jogar, e a pilha de jogos comprados e intocados só cresce. Mas jogamos para aprender mais, sim. Um game designer precisa saber o que está sendo feito pela concorrência e deve absorver novos métodos de desenvolvimento do mesmo jeito que um biólogo lê artigos científicos ou um historiador lê livros acadêmicos e participa de eventos. Enquanto o jogador vê pontos de experiência, vitórias e medalhas, o game designer vê mecânicas, ciclos e técnicas narrativas. Depois que você vira game designer jamais verá um jogo com os mesmos olhos. Você se diverte, sim, mas é como se estivesse constantemente olhando as engrenagens sob o capô do carro.
Esse conhecimento precisa virar algo. É adubo para o cérebro. Desta pesquisa devem surgir novas ideias, novas soluções, novas mecânicas. Daí vêm os conceitos de jogos, as propostas, os protótipos e, finalmente, os jogos em si. Ser game designer significa escrever muito, mas não necessariamente roteiros de ficção (apesar de que, no meu caso, faço muito disso). Significa escrever um manual técnico de como o jogo deve funcionar, manual esse que serve de base para toda a equipe (e, muitas vezes, para parceiros externos, como forma de convencê-los a financiar a sua ideia).
Isso é um resumo, claro. Talvez volte ao assunto mais para frente, explicando o processo de desenvolvimento de um jogo e dando exemplos. Mas, quem sabe, por enquanto esse artigo ajudou a esclarecer para muita gente o que diabos eu faço para ganhar a vida? E, da próxima vez que você pensar em chamar jogo de "joguinho", lembre-se que um "joguinho de celular" chamado Angry Birds gerou 70 milhões de dólares para uma (então) pequena empresa da Finlândia.
Fonte: Yahoo